Ainda que afeito à música, o canto coral vai além das questões musicais e converte-se numa atividade que envolve a sociologia, a psicologia, aantropologia, a fonoaudiologia e outras ciências afins.
Ninguém pode afirmar com exatidão quando o canto coral teve início.
O que se tem são registros que nos fazem supor a sua antiguidade. Um dos mais antigos se encontra na Caverna de Cogul na Espanha, datando do período neolítico. Essa imagem nos faz crer que existia canto e dança coletivos já na pré-história e ainda que de maneira muito rudimentar o canto coral estava presente. Os primeiros coros aparecem na Europa por volta do ano 1000 nos mosteiros e comunidades religiosas, numa herança do culto judaico, acredita-se porém, que no Séc. I os cristãos em Roma já cantavam em coro. Na Grécia Antiga se faz referência a um coro, ligado ao teatro grego.
Com o desenvolvimento da linguagem musical, no século X, se tem registro em escrita neumática que sugere o canto coletivo. No séc XII surgem os primeiros registros específicos de música feita para coro. Na atualidade o canto coral é amplamente difundido e é praticado em universidades, escolas, igrejas, associações, clubes e empresas, além de grupos independentes que realizam um trabalho de grande aceitação.
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[editar]Perspectivas
A maioria dos grupos de canto coral (cerca de 90% no mundo todo em 1980)[1] se diz amador, em contraposição aos grupos profissionais, que são aqueles em que os cantores são contratados e tem o canto coral como trabalho.
Nesta perspectiva, o canto coral pode ser considerado segundo a sua natureza profissional ou amadora, sem juízo de valor qualitativo.
Os coros profissionais são mantidos por instituições públicas, governos e grandes teatros. Na Letônia empresas privadas contratam cantores para atuar em seus coros, e apresentam repertório erudito (acadêmico) e folclórico.
Os coros amadores, longe de serem técnicamente inferiores aos profissionais, são mantidos por universidades, escolas, particulares, músicos, fundações e empresas.
[editar]Tipologia
Sem levar em consideração a qualidade do coro pode-se fracionar o canto coral nos seguintes tipos:[2]
- coros profissionais oficiais
Normalmente ligados a uma instituição pública da área da cultura. Secretarias de cultura, fundações e etc. apresentam repertórios clássicos e os cantores são músicos. Regente, preparadores vocais, cantores e músicos co-repetidores são remunerados. No mundo todo é rara a incidencia deste tipo de grupo.
- coros oficiais
São grupos de canto coral amadores, apenas o regente e músico acompanhante são remunerados, os cantores são voluntários, não obstante serem músicos. Apresentam repertório de alta qualidade.
- coros universitários
Grupos formados em universidades e faculdades. A maioria desses grupos não é ligada ao departamento de música da referida universidade, são ligados às pró-reitorias de extensão e abertos à comunidade. O regente é um professor da instituição e os cantores são pessoas da comunidade. Os coros universitários apresentam repertório de alta qualidade e costumam sagrarem-se campeões em concursos internacionais. É um dos tipos mais antigos de coro.
- coros de igreja
O mais antigo tipo de coro, os coros de igreja são formados por religiosos músicos, o canto coral se desenvolveu nas atividades dos coros de igreja. Apresentam repertório sacro e religioso de altíssima qualidade e excelência musical. Giovanni Pierluigi da Palestrina e Johann Sebastian Bach escreveram para este tipo de coro.
- coros de empresa
São corais formados por funcionários e colaboradores dos mais diversos tipos de empresa. As empresas investem na qualidade de vida de seus funcionários e obtem resultados artísticos. Nos EUA e na Europaexistem ótimos coros de empresa que realizam repertório de música popular e folclórica. É nesse tipo de grupo que os regentes obtém maior remuneração.
- coros etários
Notadamente os coros infantis e os coros de 3ª idade. É o tipo de coro onde os cantores são escolhidos pela faixa etária e funcionam como uma atividade social que sobrepuja as questões musicais. Os regentes são contratados por instituções que mantém projetos nessa área e os cantores, normalmente, pagam para participar do grupo. Desde 1990 há um crescente aumento da participação deste tipo de grupo em festivais e encontros.
- coros de gênero
São os coros onde os cantores são selecionados por seu gênero, masculinos ou femininos. Muito repertório para esse tipo de coro foi produzido. Os coros femininos e masculinos normalmente cantam a três vozes (SMA ou TBBx) e apresentam repertório de excelência musical.
- meninos cantores
Tipo de grupo praticamente extinto, formado por meninos e homens, normalmente ligado a igreja católica. Os meninos cantavam a parte de soprano e alto e os homens as partes de tenor e baixo, muito repertório de qualidade foi produzido para esse tipo de coro. Atualmente a Capela Sistina, do Vaticano é um dos últimos remanescentes desse tipo de formação.
- coros étnicos
Os grupos se reúnem em torno da questão étnica. Normalmente executam repertório de música folclórica de boa qualidade. Alguns grupos étnicos da África produzem repertório de excelência musical e realizam turnês internacionais. Na maioria dos casos os regentes são remunerados e os cantores colaboram na manutenção do grupo.
- coros com fins terapêuticos e sociais
Recentemente (a partir de 1990) apareceram em festivais e encontros de corais grupos que se reúnem para utilizar o canto coral com fins terapêuticos, como na musicoterapia, também tem se apresentado grupos ligados a instituições sociais voltadas a jovens e adolescentes em situação de risco. Nesses grupos os regentes são contratados e assumem outros papéis.
- coros independentes
Os coros independentes são aqueles que se mantém por si próprios. Os grupos independentes normalmente apresentam repertório de alta qualidade e de todos os estilos. O grupo se mantém pela participação decantores, regentes e comunidade. Um bom número de coros independentes se organiza no sentido de ONGs.
[editar]O canto coral na perspectiva da Música
Sob a perspectiva da música que um coro produz, o canto coral baseia suas atividades na execução de peças musicais escritas especialmente para coro ou arranjos para coro de canções folclóricas e populares. Com ou sem acompanhamento instrumental.[3]
Na idade média o canto coral era uma atividade reservada aos homens, portanto, os compositores arranjavam sua peças no formato TBBx (tenor - barítono - baixo), com o advento da Reforma Protestante as mulheres começaram a participar do canto coral e os compositores se adaptaram no sentido de escrever no formato SATB (Soprano, Alto ou Contralto, Tenor e Baixo), embora os corais luteranos sejam arranjos com variações melódicas de algum cantochão original do período daidade média. Todos os grandes compositores escreveram para coro e o canto coral teve seu período áureo sob os compositores Giovanni da Palestrina e Johann Sebastian Bach.
Um arranjo para coro tem a característica fundamental de um Arranjo Musical, e o Piano serve como o instrumento chave para o acompanhamento, quando necessário, aonde as quatro vozes do coro são representadas igualmente na partitura deste instrumento musical.
As canções populares e folclóricas se adaptam muito bem ao canto coral e seus arranjadores, não raro, tem o status de co-autores da canção.
- estilo "a cappella"
No estilo "A cappella" ((em italiano)), um grupo canta sem acompanhamento de instrumentos. Cada naipe executa uma parcela da harmonia da canção: um deles pode ser responsável pela melodia de cada frase musical enquanto os outros fazem o acompanhamento; ou a linha melódica se desenvolve no próprio arranjo harmônico das quatro vozes que se intercalam ou revezam a parte da linha melódica.
- estilo antifonal
Tradicionalmente, o estilo antifonal é em geral cantado durante uma missa quando dois coros cantam versos com um refrão, alternadamente, durante a leitura dos Salmos.
- estilo responsorial
No estilo responsorial erudito e tradicional, que surge na música medieval, os solistas cantam os versos e o coro canta o refrão. Comum também noutros períodos, em cantatas e noutros estilos da música barroca, principalmente quando no uso de dois corais, e também em oratórios, e mais tarde nas óperas e até outros estilos na música popular quando há um coro, assim como em outros gêneros de obras para coro. Ainda é comum se referir ao estilo responsorial devido as perguntas e respostas entre o cantor solista e o grupo coral, em que, a cada frase da melodia, eles intercalam o texto.
O conjunto de rock progressivo, Pink Floyd, apresentou com o trabalho operístico de Roger Waters, The Wall, o estilo responsorial em várias composições. Na música Another Brick in the Wall, Part II, por exemplo, o cantor solista canta o verso e noutro verso o coro infantil entra com a resposta. O verso do coro infantil é, melodicamente, o mesmo que o verso do cantor solista, fazendo a forma da música ser estrófica, mas a intercalação do coro ainda estabelece o estilo responsorial.
[editar]O canto coral na perspectiva da Fonoaudiologia
Com o recente aperfeiçoamento da Fonoaudiologia,[4] os agrupamentos de Canto Coral passaram a contar com essa ciência no trabalho em prol da beleza e longevidade vocal dos cantores. A relação entre a Fonoaudiologia e o Canto Coral se estabelece no conceito de saúde vocal e os profissionais dessa área tem no Canto Coral um vasto campo para trabalho e pesquisa. A fisiologia da voz, a higiêne e saúde vocal, o aquecimento e desaquecimento vocal, as técnicas vocais e as especificidades da voz cantada são pontos onde o Canto Coral e a Fonoaudiologia se encontram.
- técnicas vocais para o canto coral
Não se pode falar em uma técnica vocal para o canto coral. Como a maioria dos coros apresenta repertórios ecléticos (eruditos, folclóricos e populares) os especialistas apontam para a aplicação de técnicas variadas e apropriadas ao repertório que o coro executa, referem-se à técnica vocal como o modo, a maneira de cantar.[5]
Basicamente, a técnica respiratória para o canto se sustenta no apoio diafragmático para a emissão da voz e na respiração diafragmática-intercostal, muito embora no Oriente se apresentem técnicas respiratórias bastante diversas e de igual eficácia. Além das técnicas relativas a respiração, emissão, projeção, articulação e dicção o Canto Coral também se utiliza de técnicas de relaxamento físico e psíquico.[6]
[editar]O Canto coral na perspectiva da Metafísica
O canto coral, o canto coletivo, sempre fez parte integrante dos rituais místicos e religiosos do ser humano. O templo e os locais de adoração são o berço do canto coral.[7]
[editar]Regência coral
A regência coral (em latim: ars choralis) é a arte ou técnica de condução e controle de coros, e uma das especialidades do canto coral.[8]
[editar]Ver também
- Vocal de apoio (backing vocal)
- Bel canto
- Canto gregoriano
- Capela
- Coro
- Coral (protestantismo)
- Regência coral
Referências
- ↑ O Arruia. Informativo da Associação Coral Julia Pardini. Belo Horizonte. 1980. nº 126. Ano 10. p.06
- ↑ Junker, David. Junker, D. B. (1990) Brazilian Choral Directors’ Rehearsal conditions and attitudes toward choral methodology: survey analysis and recommendations. (Dissertação de doutorado, University of Missouri- Columbia, MO – USA). Dissertation Abstracts International.
- ↑ A História do canto coral. Informativo Espaço Aberto, USP. São Paulo. 2005
- ↑ Andrade, Simone Rattay; Cielo, Carla Aparecida. A ciência fonoaudiológica e a arte do canto coral / The science of speech-language therapy and the art of choral singing . 2005. p.59-68.
- ↑ Coelho, Helena Wöhl. Técnica Vocal para Coros. Editora Sinodal, São Leopoldo, 1994.
- ↑ Sartori, Denise. in Regência Coral: princípios básicos. Editora Dom Bosco, Curitiba 2000. p. 189
- ↑ Oliveira, Jelson. PONTON, O. Nietzsche – Philosophie de la légèreté. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 2007. (Monografhien und Texte zur Nietzsche-Forschung, Band 53).
- ↑ GROVE, Dicionário de música. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,1994
[editar]Bibliografia
- BARRETO, Ceição de Barros. Coro Orfeão. São Paulo, Melhoramentos, 1938
- BRAGA, Henriqueta Fernandes Rosa. Do coral e sua projeção na história da música. São Paulo, Kosmos, 1958
- CHIPP, Herschel B. Teorias da arte moderna. São Paulo, Martins Fontes, 1988
- COWARD, Henry. Choral tecnique and interpretation. Londres, Novelo e Co. Ltda.,1955
- DAVISON, A. T. Choral conducting. Cambridge, Massachussets, Harvard University Press, 1941
- ELLMERICH, Luis. História da música. São Paulo, Boa Leitura, 1962
- GAMBER, Eugene. You guide succefull singing. Windsor Press New York, 1950
- GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro, imp. LTC, 1993
- GROVE, Dicionário de música. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,1994
- MASSIN, Jean e Brigitte. História da música ocidental. Rio de Janeiro, 1997
- MATHIAS, Nelson. Coral, um canto apaixonante. Brasília: Ed. Musimed, 1986
- MED, Bohumil. Teoria da música. Brasília DF, Musimed, 1996
- MOYES, Frank. Fundamentals of conducting. Iowa. Dubuque, 1970
- SUNDERMANN, Loyd Frederick. Choral organization and administration. New York, Rockville Center, 1954
- WAGNER, Richard. Ûber das dirigieren. Ed Verlag von C.F. Kahnt. Berlim, 1869
- ZANDER, Oscar. Regência coral. Porto Alegre, Ed. Movimento, 1979
[editar]Ligações externas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Canto_coral
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